quarta-feira, 5 de março de 2008

A Aposentação

A velocidade da mudança lança para o esquecimento um passado cheio de recordações e de bons momentos para aqueles que trabalhavam e amavam as suas profissões; sentem hoje a nostalgia de que a sua profissão já não existe ou pura e simplesmente, perdeu a importância de outrora, sendo hoje residual. Essa mesma mudança, é muitas vezes, feita da dor individual que a comunidade não sente.

Muito se tem falado e escrito sobre a aposentação. Porém, penso que a versão que mais se aproxima da realidade é aquela que refere que a aposentação ao limite de idade é, quase sempre, o fim de uma etapa e o começo de outra. Esta última, porventura, menos longa. Falando da Instituição Policial, e para aqueles que nela foram “menino e moço”, estarão revivendo aquilo que durante uma ou duas gerações foi o seu mister, escolhido ou determinado pelas circunstâncias da vida – uma profissão coisa que qualquer homem ou mulher necessita de ter. Todas são dignas, desde que exercidas com entusiasmo e amor. Quase ninguém nega que o reformado constitui para a sociedade em geral um peso ou qualquer coisa que já não rende, pouco vale e relativamente quase não interessa, salvo, claro está, em determinados momentos da vida nacional (eleições). Esqueceram-no o patrão (Estado ou Empresa), quase o ignoram os colegas de trabalho, alheiam-se dele as estruturas e, com o tempo, a inflação leva-o à míngua, olvidado, também pela Caixa Geral de Aposentações ou qualquer organização afim.

Contudo, não podemos nem devemos generalizar tal afirmação, a propósito do alheamento das estruturas patronais ou empresarias; existem excepções e gestos de solidariedade que convém referir. Comigo, por exemplo, aconteceu o seguinte: Imediatamente a ter passado à situação de aposentação, trabalhei durante três anos como assessor na ex-Delegação Distrital de Protecção Civil de Setúbal. Almoçava num restaurante que se situa nas proximidades do Comando da Polícia daquela cidade. Num determinado dia, em conversa informal com o Comandante da PSP local, Sr. Superintendente Francisco Ascenção Santos, fui convidado para passar a almoçar nas instalações daquele comando, e, da conversa que então tivemos, lembro as palavras proferidas pelo Comandante: “ O Senhor vai passar a almoçar connosco no Comando; dar-nos-á muita alegria, se aceitar!” Claro! Aceitei. Agradeci-lhe, não só pelo gesto de solidariedade que teve para comigo mas também porque permitia que, à hora do almoço, se passasse um bom momento de cavaqueira entre elementos da Instituição. Também não esqueço os convites que me fez para estar presente em algumas cerimónias oficiais, como por exemplo: “o dia da PSP de Setúbal”, as quadras festivas de Natal, etc. Eternamente grato, Senhor Superintendente-Chefe Francisco Santos! Fica aqui o meu agradecimento público. E, depois deste agradecimento que devia ao Senhor Superintendente-Chefe, devo lembrar também que o acolhimento que tive naquele Comando por parte de todas as pessoas com quem convivi foi fantástico; e, para corroborar esta minha afirmação devo dizer que, a partir de então, mantenho um relacionamento extraordinário com o então 2º. Comandante, Senhor Intendente José Martins Cruz, não obstante ele ter saído de Setúbal para ir comandar Portalegre, posteriormente para Castelo Branco e de, presentemente, ser o Comandante da Polícia de Viana do Castelo.

Resumindo: Se, por vezes, as estruturas esquecem o aposentado, também não é menos verdade que o aposentado se começa a afastar dos antigos colegas e do próprio local de trabalho, concorrendo para que esse “divórcio” seja uma realidade, o que é pena!

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